terça-feira, 19 de janeiro de 2016

14° dia O dia do acidente 80 km




Fomos para a estrada com a intenção de comer uma parrilla em Mendoza que a dias estávamos nos prometendo, a reserva da minha moto já estava piscando e teríamos que parar no próximo posto. Chegando em Albardon, cidade da periferia de San Juan, vi um posto YPF do lado esquerdo da rodovia, parei no acostamento, o Samuel vinha logo atrás, assim que ele passou ao meu lado escutei um barulho como de pneu arrastando e em seguida a moto e o Samuel no chão batendo contra o inicio do guard rail, que protegia a rotatória, o Samuel ficou ali com o quadril encostado no guard rail e a moto foi parar no meio da pista, o capacete que não estava afivelado voou a uns 10 metros de distância. Ao ver aquilo um milhão de coisas passaram por minha cabeça, nessas horas a palavra tão dita no meio motociclístico faz sentido, "Irmandade", senti como se fosse um irmão meu ali, o baque foi tão grande que na hora eu sabia que a viagem estava acabada, não teria condições psicológicas de prosseguir. Desci da moto e fui ver como ele estava, ele estava lá deitado de barriga pra cima de olhos abertos, mexendo vagarosamente a cabeça, como um animal depois de atropelado antes de morrer, pensei no pior, tinha um pouquinho de sangue na boca e a perna era visível que tinha quebrado o fêmur e pelo impacto eu pensei que a bacia também estava quebrada. Chamei por ele e nenhuma reação e eu em meio do desespero já pensando em como falar pra família do ocorrido. Assim que ocorreu o acidente o carro que vinha atrás parou e já ligou para a polícia ou bombeiros, em menos de um minuto um viatura da polícia já estava ali, neste meio tempo o Samuel retomou consciência e estava bem consciente mesmo, sabendo que não tinha seguro e não tendo noção da gravidade do acidente, falou em tentarmos resolvermos aquilo sozinhos, talvez por não estar sentindo dor por conta da adrenalina e não se deu conta da perna quebrada, falei pra ele da perna e ele parece que não acreditou, pedi pra ele ficar calmo e deixar que levassem ao hospital, pois a batida foi forte e poderia ter algo mais grave.
A foto foi tirada de onde eu estava e aquela parte branca e vermelha foi onde ele bateu com o quadril.


Depois de uns 5 minutos do ocorrido uma ambulância já estava ali, o Samuel me passou sua carteira, dinheiro e o canivete. Imobilizaram ele e o levaram ao hospital.
Fiquei ali com a policia preenchendo os papeis relativos ao ocorrido, depois fomos pegar a moto para colocar moto na caminhonete deles e o pneu dianteiro estava furado, não foi em virtude do acidente pois o pneu não chegou a bater no guard rail,  colocamos a moto na caminhonete e segui eles até a delegacia para terminas o registro da ocorrência e para pegar o endereço do hospital pra onde foi levado.
A causa do acidente certamente tinha sido o pneu furado não percebido por ele, pois estávamos em uma longa reta, e ao frear fazendo uma leve curva acabou dobrando e pegando o aro no chão, isto explica o barulho que ouvi, pois não tinha areia na pista nem óleo. Por sorte vínhamos devagar e ao cair ele não deveria estar a mais de 40 km/h.


Peguei o endereço e segui para o hospital, um hospital público as margens da Ruta 40 no centro de San Juan. Cheguei lá e fui levado a enfermaria onde ele estava. Estava bem, no soro e com umas chapas de radiografia em cima da cama, ao começar a falar com ele, ele falava comigo como vinha falando com frentistas e atendente, falava o português mas enrolando a língua para parecer que estava falando castelhano, achei que tinha afetado a cabeça também. kkkk  Pedi para ele falar direito e ai sim ficou melhor para perguntar a ele o que os médicos disseram a respeito do estado dele.
Pelas radiografias podia-se ver que o fêmur tinha uma fratura que necessitaria de cirurgia, do resto estava tudo certo, ele estava drogado e não sentia dores.
Ele já tinha se informado com o traumatologista a respeito de custo e a boa notícia é que o hospital era público e não cobraria nada mas que para uma cirurgia que vai necessitar de pinos ou outras coisas mais caras acontece como no Brasil, levaria até 60 dias. Como tínhamos ainda  um bom tanto de dinheiro, pois tínhamos rodado 5800 km de uma previsão de 15000 km. Começamos a pensar na possibilidade de uma cirurgia em hospital privado, peguei com o médico o nome de 3 hospitais público e fui lá com as radiografias para ver quanto sairia, era dia 24 de dezembro, o administrativo dos hospitais funcionavam até o meio dia, já era umas 3 horas da tarde. Fui no primeiro e para saber o custo da cirurgia eu teria que pagar 350 pesos pela consulta com um traumatologista para ele ver as radiografias e me passar um papel para falar com o administrativo e passar um orçamento. Fui a outro hospital, sem fazer a consulta no primeiro, perguntei se também era cobrada a consulta e também era, mas era mais barato, era 300 pesos, fiz então a consulta e eu só poderia falar com o administrativo dia 26. Voltei então para o hospital e dei as noticias para o Samuel, decidimos esperar e então dia 26 ver quanto ia ficar. Me convidaram para sair dali, assim como todos os outros acompanhantes.
Já estava perto do fim da tarde, peguei a Biz fui até um mercado e comprei um saco de batata frita de 1 kg e voltei para a estrada de onde tínhamos vindo e fui procurar um lugar para acampar, desta vez eu estava sozinho novamente, achei um lugar a 15 km do hospital um pouco antes de chegar em Albardon em um lugar onde se retiravam pedras.



Um comentário:

  1. Comecei a ler suas aventuras hoje, esse momento deve ter sido muito tenso!

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