segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

25º dia de Yerba Buena a Cajamarca 260 km

25º dia
Dia 31 de dezembro de 2016



 Trajeto do dia.

Choveu um fininho durante toda a noite, pelas 4 horas da manhã ouço pessoas passando na rua e comentando que alguém tinha deixado um triciclo ali, se referindo a minha moto. Realmente não parecia que tinha barraca ali. Acordei com a lona da barraca no meu rosto, tinha quebrado uma vareta e já era a terceira vez que quebrava durante esta viagem. Eu tinha um pequeno espaço dentro da barraca que estava com uns 30 centimetros de altura. Eu não podia sair da barraca pra arrumar no escuro e a noite, então continuei assim mesmo até amanhecer. Outras pessoas também passaram pela barraca tocando vacas e permaneceram na esquina por quase uma hora conversando. Era a última vez que eu utilizaria aquela barraca, as varetas já estavam se desmanchando. Teria que comprar outra em alguma cidade grande neste dia.

Ao amanhecer desmontei a barraca e guardei tudo, já não chovia mais, apenas uma neblina no alto das montanhas. Fui informado de que  o caminho para percorrer à pé demoraria 25 minutos até os mausoléus, a placa indicava 3,5 km, só por isso já dava pra saber que não teria como fazer em 25 minutos, além de que eu estava a 2.300 metros de altitude e os mausoléus a 2.800 metros, um desnível de 500 metros significaria que teria que subir muito morro até chegar lá. Iniciei a subida as 7:45, por meio a trilhas em meio a uma mata baixa e com muito capim ao longo da trilha. Este capim estava molhado e conforme eu  progredia na trilha ia molhando a calça. Fui acompanhando as indicações de placas até achar uma que indicava que faltava 1 km, vi uma choupana ao pé da encosta rochosa da montanha a uns 500 metros de onde eu estava e uma trilha mais marcada que segui paralela a encosta rochosa, pensei que teria que seguir em frente para depois fazer uma curva e voltar até a choupana, segui na trilha e depois de pouco mais de 1 km vi que não estava no caminho certo. Já cansado tive que voltar até até a placa nela seguiria morro acima uma trilha que parecia não ser usada a tempos, subi por ela e então cheguei a choupana que é um mirante para o vale e para os mausoléus. Levei 2 horas e 15 minutos para chegar lá. Descansei um pouco, não tinha ninguém lá. Um portão impedia o acesso aos mausoléus. Olhei bem para as trilhas abaixo a procura de alguém subindo e não vi ninguém, então pulei a cerca e fui até os primeiros mausoléus, na única casinha que consegui ver dentro ainda tinha uma costela e alguns ossos de dedos. Tinha como subir e acessar os outros mausoléus, mas era arriscado e não quis arriscar, estava sozinho e se caio e fico vivo poderia demorar muito para alguém me encontrar. Os mausoléus Revash são da cultura Chachapoyas e imitam as casa que este povo habitava.
 Pulei a cerca novamente e iniciei a descida. Me perdi novamente quase no fim da trilha, andei quase 1 km e tive que voltar até achar a saída.

Abaixo fotos dos Mausoléus Revash







Voltei para o asfalto e logo estava em Leymebamba, procurei um posto lá e achei apenas um cara que vendia gasolina em casa, enchi o tanque e perguntei quanto tempo levaria para chegar até Cajamarca, que estava a 200 km de lá. O cara me falou: "De 4 a 5 horas."  Pensei que ele só poderia estar brincando, mas fui para a estrada e logo descobri que não estava bricando. A estrada é asfaltada, porém tem pouco mais de 3 metros de largura e sobe e desce montanhas com infinitas curvas, uma seguida da outra, e não tem como andar rápido. A paisagem é bela, muitos vales, montanhas e fazendinhas típicas peruanas e milhares de lombadas, a cada vilinha tinha pelos menos duas e em todas elas batia o fundo da moto, são lombadas altas e curtas. Peguei um trecho de montanha que tinha chovido muito na noite anterior e tinha barro na pista em alguns pontos, o que tornava ainda mais perigosa a condução por aquelas estradas estreitas e cheias de curvas. Perto das 13 horas parei no meio da montanha e um restaurantezinho e comi uma sopa de pato. Estava morto de fome pela caminhada de mais de 3 horas. 
Segui por mais alguns quilômetros e um cara com um triciclo na beira da rua me faz sinal para parar. Parei para ver o que ele queria. Queria saber se eu teria remendo para câmara, tinha furado o pneu dianteiro e ele estava desmontando com chave de fenda, falei que não tinha remendo, mas poderia emprestar a espátula, mesmo assim levou mais de meia hora pra desmontar o pneu. Enquanto fiquei lá esperando ele desmontar o pneu um colega dele ficou fazendo sinal para outros motociclistas e carros pararem e ninguém parava. Perguntei se era comum ninguém parar e ele disse que sim. Me pareceu que lá é cada um por sí e Deus por todos. Como não podia fazer mais nada, segui.


Abaixo fotos do caminho entre Leymebamba e Cajamarca





Na descida para a cidade de Balsas a vegetação já muda para semi-desértica e o calor aumenta, desce-se cerca de 1000 metros de altitude para cruzar um rio e logo sobe-se novamente. Como toda tarde sempre chove esta não foi diferente, ela me acompanhou até perto de Banos del Inca parei para esquentar as mãos algumas vezes, pois eu ja não sentia os dedos.
Chegando na cidade tive o primeiro grande susto da viagem. Depois de uma reta em uma descida havia uma curva para a esquerda com guardrail, vim freiando com os dois freios, como sempre faço, e quando começo a fazer a curva o pneu dianteiro escapou devido a areia na pista, a pista estava seca. Imediatamente solto o freio e seguro com o pé no chão, estava a uns 50 km/h, a moto volta, mas tenho que freiar novamente, pois estou indo pro guardrail. Neste momento milhões de coisas passam pela cabeça, lembrei da última viagem onde o colega quebrou a perna em um tombo besta em um guardrail, me passou também a queda e o que poderia acontecer ao bater no guardrail, são frações de segundo mas que o cérebro da gente trás a toma milhares de informações e realiza milhões de cálculo para nos tirar de uma situação de risco. Ao freiar novamente acontece o mesmo, o pneu dianteiro escorrega moto começa a tombar para a esquerda e mais uma vez seguro com o pé e ela volta e consigo então fazer a curva. Pela velocidade que eu estava e a distância do guardrail se eu chegasse a bater nele já seria devagar e não machucaria muito, mas para a moto certamente seria o fim da viagem. Depois deste susto segui com mais cuidado.
Cheguei em Cajamarca já ao anoitecer, comprei umas frutas e fui procurar um hotel, fazia uma semana que eu não tomava banho e era passagem de ano, eu merecia um conforto. Fiquei no primeiro que parei, custou 30 soles, R$30,00, quarto com cama de casal, banheiro no quarto, TV de 42" e limpo.
Depois de tudo certo no hotel fui comprar a barraca, pois sabia que no dia seguinte estaria tudo fechado. Em um hipermercado achei uma barraca por R$39,00, comprei mais algumas bolachas para os dias seguintes e voltei para o hotel, deixei a moto a 3 quadras do hotel em um estacionamento e fui debaixo de garoa para o hotel. Fui dormir antes da virada.
Quilometragem do dia: 260 km
Quilometragem acumulada: 8355 km

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