terça-feira, 19 de janeiro de 2016

15°ao 20°dia em San Juan

15° dia, dia 25 de dezembro de 2015


            Desmontei a barraca e fui a uma praça que tem wi-fi em San Juan. Entrei em contato com um grupo de Whatsapp, no qual o Raphael Girelli tinha me adicionado no dia anterior a viagem, este grupo tem os contatos que apoiaram o Raphael em sua viagem no ano passado, então é um grupo de apoio ao motociclista. Neste grupo postei que necessitaria de alguém que pudesse me ceder um lugar em San Juan para poder acampar enquanto o Samuel estivesse no Hospital, o Gustavo Herrera, que é o presidente do Moto Grupo Rodando de Salta mexeu uns pauzinhos e entrou em contato com o Chistian Batelemi que é da Agrupacion Ruta 40 e mora em Chimbas na periferia de San Juan e que se dispôs a me receber em sua casa.
           Entrei em contato com o Cristian e aguardei até que ele viesse ao meu encontro na praça. A primeira coisa que ele me perguntou foi se eu era de alguma agrupacion, falei que não, senti que ele meio que titubeou quanto a ajudar um "lobo solitário", mas em seguida pediu pra seguir ele e fomos até a casa dele, uma casa de adobe muito simples, mas como o terreno era grande e tinha até um teto para eu montar a barraca debaixo eu já estava feliz.
 
Pracinha onde passei varias horas durante os dias que ficamos lá.

Casa do Cristian onde fiquei acampando.

          Depois de montar a barraca lá fui ao hospital ver como estava o Samuel. Chegando lá me informaram que ele estava no setor de traumatologia, um bloco novo e muito bonito, fui até o quarto dele, onde ele estava com outro acidentado que estava com a bacia quebrada a quase 2 meses, ele estava bem, já tinham colocado um ferro atravessando a perna perto do joelho para poder esticar a perna e colocar o fêmur no lugar para a cirurgia.


         Fiquei lá um tempo e já a noitinha fui para a casa do Cristian. Chegando lá estavam ele, sua noiva e um colega que faz parte da agrupacion deles, o Yastay. Era noite do dia 25 de dezembro e para eles não era uma data de comemoração, pois no ano anterior no mesmo dia faleceu no parto a filha do casal por conta da omissão do pessoal do hospital onde o Samuel está internado. Conversamos até umas horas e fui pra minha barraca dormir.

16° dia, dia 26 de dezembro de 2015 

         Sai cedo para ir ao hospital particular pegar o orçamento, cheguei lá e fui a administração, fui informado de que os custos da cirurgia seriam de 15000 pesos e não incluíam o pino que seria colocado nem o anestesista. Fui então ao hospital passar a informação ao Samuel para decidirmos o que fazer.
        Quando fiz a consulta com o traumatologista do hospital particular ele falou que também trabalhava no hospital Rawson e que tinha a possibilidade de comprarmos os pinos e realizar a cirurgia lá mesmo, passei os valores cirurgia e chegamos a conclusão de que seria melhor comprar o pino e fazer a cirurgia lá mesmo, pois no particular não sairia por menos de 30.000 pesos, uns R$7.500, a cirurgia. Como era sábado e já passava do meio dia teríamos que esperar até a segunda feira para ver quanto custariam os pinos, fiquei por lá até umas 22:00 horas e voltei para a casa do Cristian.
              Chegando lá já estavam alguns integrantes da agrupacion que estavam lá para conhecer o "brasileño", fazer a reunião mensal deles e um assado de frango. Fui apresentado aos integrantes pelo Cristian e seguimos conversando, logo ficou pronto o assado, um frango aberto ao meio pelo peito e assado sobre uma grelha como a parrilla, comemos o assado, que por sinal estava muito bom e lá pelas 3:00 horas da manhã fui dormir.


17° dia, dia 27 de dezembro de 2015

             Acordei eram umas 9:00 horas da manhã com o sol batendo na barraca, e como é quente lá, quase meio dia o Cristian acordou, depois levou sua noiva para trabalhar e na volta fomos dar uma volta até um dique que abastece as cidades da região.
Ali atrás a moto do Cristian, uma Guerrero 150 cc.

          Quando voltamos fui ao hospital para ver como o Samuel estava e estava tudo bem, fora o barulho no quarto, o outro quebrado ouvia a todo volume no celular uma radio da cidade que só toca músicas regionais durante o dia e a noite também.

          
Os pesinhos com tecnologia de ponta para esticar a perna do Samuel.

18° dia 28 de dezembro de 2015

Acordei tarde, umas 10:00 comi alguma coisa e fui até a pracinha usar o wi-fi e conversar com minha família, fiquei lá algumas horas e depois fui ao hospital, como no fim de semana o traumatologista não passou lá para deixar a receita para eu poder pesquisar o preço do pino que iria na perna do Samuel, eu achava que na segunda teríamos a receita para poder pesquisar o preço. O Samuel falou que o médico não tinha aparecido e ficamos aguardando, fiquei lá até escurecer e voltei para a casa do Cristian. Chegando lá ele não estava, logo apareceu o pai dele pra conversar comigo, o senhor Alfredo, meu chara. Papeamos um bom tempo lá, ele me contou de suas aventuras de quando era jovem, contou que correu boa parte da Argentina de bike e que numa dessas se quebrou todo quando caiu de um precipício com outro colega, cada um em sua bike, ficou mais de um ano hospitalizado com varias fraturas. Depois chegou o Cristian, conversamos mais um pouco e fui dormir.


19° dia 29 de dezembro de 2015  


           Levantei cedo e fui a delegacia para liberar a moto para voltar lá outro dia para buscar. Cheguei lá e me fizeram ficar esperando umas duas hora até que fui atendido pelo oficial, fiz a liberação e fui até o hospital pra ver se o médico já tinha passado e receita. Chegando vi que o Samuel estava usando uma bolsa para urinar, não estava conseguindo fazer sozinho e colocaram uma sonda pela uretra para que pudesse urinar e agora estava tudo bem. O Samuel me passou a receita que o médico tinha passado, já era perto do meio dia, fui na primeira loja e o cara só poderia me passar o preço à tarde, mas já me deu uma prévia que ficaria perto de 15.000 pesos. Sai da loja e já não daria mais para ir nas outras pois estavam fechadas, como lá tem a tal da ciesta, comercio fecha as 12:00 e reabre as 17:00, tive que ficar esperando abrir o comercio na pracinha mesmo, fiquei por lá usando o wi-fi sob um sol de mais de 40°C, lá é quente pra caramba, a minha agua já tinha acabado e eu com sede e tudo fechado, perto das 17:00 fui pra frente de um mercadinho e fiquei esperando abrir, quando abriu comprei uma garrafa de 1.25L de Coca-Cola e matei ela, a sede era grande. Depois fui terminar minha pesquisa de preços, fui a mais uma loja que disse que me passaria o preço no outro dia e em outra que me passou o preço de imediato: 10.000 pesos e teriam a pronta entrega, peguei uma descrição do produto para mostrar ao medico. Voltei ao hospital para comunicar ao Samuel sobre os valores e entregar a descrição do pino para o médico avaliar. Fiquei lá até a noite e voltei para a casa do Cristian.

20° dia 30 de dezembro de 2015

             Fui cedo para o centro procurar uma casa de câmbio para trocar reais e dólares por pesos, pois não tínhamos o suficiente em Pesos. Achei uma e fui fazer o câmbio: dólar a  1 dólar por 13,8 pesos e 1 real por 3,5 pesos, muito mais caro que tínhamos pagado em Foz do Iguaçu, mas era o que tinha, então troquei e fui até a loja comprar o pino, que custava 10.000 pesos. Comprei também um chip para o celular do Samuel para ele poder avisar a família sobre o ocorrido. Depois fui ao hospital, já passava das 12:00, cheguei lá e fiquei no quarto do Samuel aguardando chegar o médico, depois de um tempo ele chegou e avisamos que eu tinha comprado o pino, então ele foi ver quando poderia ser feita a cirurgia, depois de um tempo ele voltou e falou que seria no dia 4 de janeiro, em função do feriado de ano novo e de ter um final de semana em seguida, então teríamos 5 dias para ficar só esperando até a cirurgia. Perto da noite fui para a casa do Cristian, pois o primo dele iria lá para pegarmos a moto na delegacia. Ao chegar lá fiquei conversando com o irmão do Cristian, o Aníbal, cara gente fina e muito curioso sobre nossa viagem e algumas coisas sobre o Brasil.  Depois de mais ou menos uma hora chegou o primo do Cristian e fomos a delegacia pegar a moto.
            Pegamos a moto e as bagagens e trouxemos para casa, lá eu e o Cristian desmontamos os alforjes e tiramos o suporte do baú para no outro dia lavar ela e tentar vender ela por lá para não ter que levar de volta ao Brasil.
            Lá pelas 22:00 horas chegaram os integrantes da agrupacion Ruta 40 para o assado de fim de ano, trouxeram um file grande e grosso, quando vi já imaginei que ficaria duro, pois era muito grosso. Foram comprar a lenha para fazer o assado, lá se usa lenha eles queimam a lenha e depois chegam a brasa debaixo de uma grelha baixinha, ficamos ali conversando e ouvindo rock até perto das 0:30 horas, quando chegou uma pessoa que eles estavam esperando e então foi servido o assado, e pense num assado gostoso e macio, desmanchava na boca.

A noiva do Cristian, Elizabeth, eu, Cristian e a filha dele a Nerea.

O assadinho da agrupacion

            Lá pelas tantas chegou outro motociclista, o Fredi, que faz parte de outro grupo, já "borracho", cara gente fina, queria a todo custo ajudar a gente, mas já tínhamos tudo resolvido, falou que ia lá visitar o Samuel no outro dia, mas como sei que bêbado esquece as coisas, sabia que ele não iria. Estavam todos bebendo vinho e cerveja, fiquei por ali até umas 6:00 horas da manhã, e fui dormir e eles continuaram lá. Não sei como chegaram em casa, mas foram de moto e ninguém se acidentou.



14° dia O dia do acidente 80 km




Fomos para a estrada com a intenção de comer uma parrilla em Mendoza que a dias estávamos nos prometendo, a reserva da minha moto já estava piscando e teríamos que parar no próximo posto. Chegando em Albardon, cidade da periferia de San Juan, vi um posto YPF do lado esquerdo da rodovia, parei no acostamento, o Samuel vinha logo atrás, assim que ele passou ao meu lado escutei um barulho como de pneu arrastando e em seguida a moto e o Samuel no chão batendo contra o inicio do guard rail, que protegia a rotatória, o Samuel ficou ali com o quadril encostado no guard rail e a moto foi parar no meio da pista, o capacete que não estava afivelado voou a uns 10 metros de distância. Ao ver aquilo um milhão de coisas passaram por minha cabeça, nessas horas a palavra tão dita no meio motociclístico faz sentido, "Irmandade", senti como se fosse um irmão meu ali, o baque foi tão grande que na hora eu sabia que a viagem estava acabada, não teria condições psicológicas de prosseguir. Desci da moto e fui ver como ele estava, ele estava lá deitado de barriga pra cima de olhos abertos, mexendo vagarosamente a cabeça, como um animal depois de atropelado antes de morrer, pensei no pior, tinha um pouquinho de sangue na boca e a perna era visível que tinha quebrado o fêmur e pelo impacto eu pensei que a bacia também estava quebrada. Chamei por ele e nenhuma reação e eu em meio do desespero já pensando em como falar pra família do ocorrido. Assim que ocorreu o acidente o carro que vinha atrás parou e já ligou para a polícia ou bombeiros, em menos de um minuto um viatura da polícia já estava ali, neste meio tempo o Samuel retomou consciência e estava bem consciente mesmo, sabendo que não tinha seguro e não tendo noção da gravidade do acidente, falou em tentarmos resolvermos aquilo sozinhos, talvez por não estar sentindo dor por conta da adrenalina e não se deu conta da perna quebrada, falei pra ele da perna e ele parece que não acreditou, pedi pra ele ficar calmo e deixar que levassem ao hospital, pois a batida foi forte e poderia ter algo mais grave.
A foto foi tirada de onde eu estava e aquela parte branca e vermelha foi onde ele bateu com o quadril.


Depois de uns 5 minutos do ocorrido uma ambulância já estava ali, o Samuel me passou sua carteira, dinheiro e o canivete. Imobilizaram ele e o levaram ao hospital.
Fiquei ali com a policia preenchendo os papeis relativos ao ocorrido, depois fomos pegar a moto para colocar moto na caminhonete deles e o pneu dianteiro estava furado, não foi em virtude do acidente pois o pneu não chegou a bater no guard rail,  colocamos a moto na caminhonete e segui eles até a delegacia para terminas o registro da ocorrência e para pegar o endereço do hospital pra onde foi levado.
A causa do acidente certamente tinha sido o pneu furado não percebido por ele, pois estávamos em uma longa reta, e ao frear fazendo uma leve curva acabou dobrando e pegando o aro no chão, isto explica o barulho que ouvi, pois não tinha areia na pista nem óleo. Por sorte vínhamos devagar e ao cair ele não deveria estar a mais de 40 km/h.


Peguei o endereço e segui para o hospital, um hospital público as margens da Ruta 40 no centro de San Juan. Cheguei lá e fui levado a enfermaria onde ele estava. Estava bem, no soro e com umas chapas de radiografia em cima da cama, ao começar a falar com ele, ele falava comigo como vinha falando com frentistas e atendente, falava o português mas enrolando a língua para parecer que estava falando castelhano, achei que tinha afetado a cabeça também. kkkk  Pedi para ele falar direito e ai sim ficou melhor para perguntar a ele o que os médicos disseram a respeito do estado dele.
Pelas radiografias podia-se ver que o fêmur tinha uma fratura que necessitaria de cirurgia, do resto estava tudo certo, ele estava drogado e não sentia dores.
Ele já tinha se informado com o traumatologista a respeito de custo e a boa notícia é que o hospital era público e não cobraria nada mas que para uma cirurgia que vai necessitar de pinos ou outras coisas mais caras acontece como no Brasil, levaria até 60 dias. Como tínhamos ainda  um bom tanto de dinheiro, pois tínhamos rodado 5800 km de uma previsão de 15000 km. Começamos a pensar na possibilidade de uma cirurgia em hospital privado, peguei com o médico o nome de 3 hospitais público e fui lá com as radiografias para ver quanto sairia, era dia 24 de dezembro, o administrativo dos hospitais funcionavam até o meio dia, já era umas 3 horas da tarde. Fui no primeiro e para saber o custo da cirurgia eu teria que pagar 350 pesos pela consulta com um traumatologista para ele ver as radiografias e me passar um papel para falar com o administrativo e passar um orçamento. Fui a outro hospital, sem fazer a consulta no primeiro, perguntei se também era cobrada a consulta e também era, mas era mais barato, era 300 pesos, fiz então a consulta e eu só poderia falar com o administrativo dia 26. Voltei então para o hospital e dei as noticias para o Samuel, decidimos esperar e então dia 26 ver quanto ia ficar. Me convidaram para sair dali, assim como todos os outros acompanhantes.
Já estava perto do fim da tarde, peguei a Biz fui até um mercado e comprei um saco de batata frita de 1 kg e voltei para a estrada de onde tínhamos vindo e fui procurar um lugar para acampar, desta vez eu estava sozinho novamente, achei um lugar a 15 km do hospital um pouco antes de chegar em Albardon em um lugar onde se retiravam pedras.