quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

28º dia de Cânion del Pato a Yamana 260 km

28º dia
Dia 02 de janeiro de 2017

Trajeto do dia.


Depois de uma noite tranquila acordei disposto e feliz, pois hoje era o grande dia de conhecer a cordilheira branca. Sonho meu e de muitos. 
Fui subindo o cânion acompanhando o rio caudaloso em função da chuvas no alto da cordilheira. Eu tinha acampado bem no início da parte bonita do cânion e conforme eu ia subindo o cânion ia fechando e logo começaram a aparecer os primeiros túneis e pontes, nesta parte a cordilheira tem várias cores em função de vários tipos de minerais e em função disso ao longo do cânion tem varias áreas de mineração, mas de pequeno porte.
O cânion tem 40 km de extensão e conta com 35 túneis neste trajeto. A estrada foi construída sobre uma antiga linha férrea desativada e separa a Cordilheira Branca da Cordilheira Negra. No cânion foi construída a primeira hidroelétrica peruana em meio as montanhas. Dali saem linhas de alta tensão para alimentar várias regiões do Peru e a estrada de manutenção destas linhas, que também é a ligação entre algumas cidades é uma das mais perigosas do mundo, inclusive a série Estradas Mortais teve um episódio gravado nela. Ótima dica de passeio, certamente quando voltar a região passarei por esta estrada.
Até chegar a hidroelétrica foram poucos túneis e após ela o cânion se fecha e obrigou a construção de vários túneis, alguns deles com mais de 100 metros e como não tem iluminação foram feitas janelas cavadas nas rochas dando um charme único a estes túneis. Os 134 km que me percorri até Yungay me tomaram 4 horas em função da beleza do cânion e das centenas de paradas para fotos e apreciar os lugares.

Abaixo uma sequência de fotos do Cânion del Pato.





















Yungay é a cidade de acesso ao parque nacional Huascaran, esta cidade que segundo o censo de 2002 tinha 16.800 pessoas, mas já teve mais de 20.000 habitantes até 1970, quando um terremoto de magnitude 7,9 graus atingiu a região no dia 31 de maio de 1970. O terremoto fez uma placa de gelo do nevado Huascaran se desprender e descer sobre Yungay que estava a 18 km de distância. Estimasse que 40 milhões de m³ de gelo e pedras desceram da montanha a uma velocidade entre 280 a 335 km/h, soterrando completamente a cidade. Dos mais de 20.000 habitantes apenas 300 sobreviveram, destes 92 pessoas que correram para o cemitério da cidade que é mais elevado, 25 pessoas que correram para outro morro vizinho a cidade e o restante, na maioria crianças que estavam em um circo itinerante a 700 metros do centro da cidade. Após o acontecido o local da tragédia foi abandonado e nenhum corpo ou bem material foi retirado do local e declarada zona de desastre intangível pelo governo local. Hoje o local é um parque em memória aos desaparecidos. No local ainda é possível ver alguns dos vestígios da tragédia como um ônibus que tinha chegado horas antes da tragédia com quase 40 pessoas a bordo e os restos da igreja que ficava na praça central. 




Abaixo sequência de fotos do campo santo de Yungay.





 
Após o passeio pelo parque fui procurar uma Lan House para mandar notícias e depois fui almoçar. Achei um restaurante onde pedi o menu, é assim que se pede o prato básico como se fosse pedir um prato feito no Brasil, que custou 5 reais, saí de lá e fui em outro restaurante e pedi outro menu, que também custou 5 reais. Tinha que comer bem, pois sabia que no dia seguinte poderia não achar um restaurante. Segui então por uma estradinha de terra cordilheira acima até chegar a uma cancela na entrada do parque. O guarda me informou que teria que pagar 10 reais para entrar e que era válido por 24 horas. Enquanto conversávamos chegou um cara em uma moto trail de 200 cc com um galão de 20 litros de gasolina amarrado na lateral da moto e uma mochila grande amarrada atrás. Era um eslovaco, professor de inglês e espanhol que tinha comprado esta moto de um brasilieiro em Iquitos e ia percorrer a Cordilheira Branca e depois seguiria para Cusco. Conversamos um pouco e depois de pagar a minha entrada segui.
Minha primeira parada foi na laguna Llanganuco Chinancocha, uma laguna de um azul que não tem como descrever, as fotos mostram um pouco do lugar, mas só quem foi lá sabe o que realmente é aquele lugar. A emoção de estar ali, depois de tanto ver as fotos de outras pessoas e ficar namorando pelo Google Maps, é grande. Fiquei lá comtemplando a beleza por um tempo e segui para a laguna Orconcocha, que por estar ao lado da outra laguna perde um pouco de sua beleza. A estrada que liga as duas lagunas passa ao lado de uma montanha que tem várias cachoeiras formadas pela água do degelo dos glaciares e que alimentam os lagos. Após as lagunas continuei pela estrada em péssimas condições, com muitas pedras soltas e buracos, para subir a cordilheira e lá do topo poder ter a visão do nevado Huascaran e das lagunas. Até aquele momento o Huascaran estava encoberto por nuvens e apenas conseguia ver o início dos glaciares. Fui subindo devagar e como é normal nesta época, começou a chover e o frio aumentava conforme eu subia. Já quase no alto da cordilheira começou a chover um granizo fino que já se acumulava em alguns pontos ao longo do caminho. Ao chegar na ultima curva antes de começar a descer para o outro lado da cordilheira parei para algumas fotos e o Huascaran continuava encoberto, o que pra mim era decepcionante. O lugar é muito lindo quando não está encoberto. 




Abaixo uma sequência de foto das Lagunas Llanganuco e Orconconcha e abra Portachuelo.












 
Desci então para o outro lado, que não tem a mesma beleza e fui descendo, com os dedos doendo de frio e uma chuvinha fina. Não podia andar a mais que 30 km/h por conta das condições da estrada. Cheguei em Yamana sob chuva, já eram 17 horas, parei na delegacia da cidade para me informar sobre o caminho e o policial me recomendou que ficasse na cidade, pois até a proxima cidade eu não chegaria durante o dia e provavelmente anoiteceria na cordilheira e com chuva. Me falou para procurar a paróquia da cidade, era uma casa grande onde ficavam padres, freiras e outras pessoas da igreja católica, que eles sempre acolhiam viajantes e que talvez tivesse lá um lugar para eu acampar. Passei em um mercadinho antes e comprei algumas coisas. Cheguei na paróquia e expliquei para quem me atendeu que eu procurava um lugar para acampar, que poderia ser do lado de fora na grama, tinha um gramado grande em frente a casa que fica em uma fazenda. A pessoa me disse que seria complicado, porque estavam organizando uma festa para os próximos dias. Não insisti mais, do lado de fora eu não ia atrapalhar ninguém e vi que o cara não estava querendo minha presença ali. Ele me disse que eu poderia seguir o caminho para a cidade que eu estava indo e acampar em um estábulo abandonado a uns 5 km a frente. 
Esta era a segunda vez, em todas as viagens que fiz, que pedi um lugar pra acampar e que me foi negado, por isso evito pedir para alguém um lugar para ficar. Os sentimentos que vem após uma situação dessa não contribuem em nada positivo, então melhor nem tentar pedir novamente.
Cheguei no tal estábulo, era uma casa e uma estábulo que ficavam na montanha, cheguei lá quando estava anoitecendo, entrei no estábulo, um lugar coberto e com piso de concreto, o frio já era intenso, estava a mais de 3.000 metros de altitude e chovendo. Montei a barraca, comi algumas frutas e fui me arrumar para dormir. Me enrolei na manta e entrei no saco de dormir. Não passei frio esta noite, a manta funcionou bem, pois a noite foi gelada.

Local do camping.



Quilometragem do dia: 260 km
Quilometragem acumulada: 9155 km
E pra quem perdeu algum capítulo segue o endereço do blog:
http://passeandopelaamerica.blogspot.com.br/

27º dia de Shorey a Cânion del Pato 270 km

27º dia
Dia 02 de janeiro de 2017
Trajeto do dia.


Acordei no meio da madrugada com dor de barriga, tinha alguns dias que estava com diarreia, e tive que sair da barraca pra dar uma aliviada. O céu estava limpo e estrelado, o que me facilitou um pouco em achar um lugar para fazer o serviço. Ao amanhecer vi que tinha acampado a 100 metros de um cemitério, o que pra mim não seria problema mesmo que tivesse visto ele a noite. 
Deixei a barraca e lona estendidos ao sol para secar enquanto comia e arrumava as as tralhas na moto. Ao iniciar a descida da cordilheira, que segue ao longo do vale do rio Moche, em uma curva parei para ver várias casinhas feitas em homenagem aos que faleceram em um acidente naquele lugar. Lá tinha um púlpito com a relação dos mortos, eram 40 pessoas que caíram com um ônibus de 200 metros de altura dentro de um rio. Mais uma vez um aviso para ter cuidado.

Desci o vale e cheguei em Trujillo pelas 11 da manhã. Vi uma placa indicando as Huacas del Sol e de La Luna a 5 km, eu não quis visitar quando passei por lá quando ia para o norte, mas pelo que ouvi falar delas nos outros sítios certamente valeria a visita. Segui então até o o museu das huacas, comprei os ingressos e segui para visitar o museu, onde é proibido tirar fotos. No museu são expostos objetos encontrados nas escavações das huacas, são cerâmicas de vários tipos e com vários motivos decorativos. Como os moches eram um povo guerreiro a grande maioria dos desenhos se refere a motivos militares. Existem também algumas peças em metal e outras em madeira, osso, conchas e tecidos. Fiquei mais de uma hora no museu lendo as informações de cada objeto.
Segui então para a Huaca de La Luna. As Huaca de La Luna e del Sol são considerados como um santuário Moche e foi a capital da cultura Moche do século I a.C ao IX d.C. A população vivia em volta destas pirâmides, sendo a Huaca del Sol era um centro administrativo enquanto a de La Luna era um centro religioso, onde eram realizados sacrifícios e oferendas. Ser sacrificado na cultura Moche era motivo de honra e na praça onde eram realizados os sacrifícios foram encontradas mais de 40 ossadas, os sacrificados ficavam onde caiam para serem comidos pelos condores. 
Apenas a hHuaca de La Luna foi estudada mais a fundo e restaurada em partes, é possível ver várias pinturas e esculturas nas paredes, esta huaca foi reconstruída 5 vezes. A cada reconstrução toda a huaca era recoberta por uma nova camada de tijolos de argila, remodelada e todas as pinturas e esculturas refeitas. Estes processos de construção e reconstrução consumiram 140 milhões de tijolos. No passeio pela huaca é possível ver 3 dessas camadas em uma parte que foi escavada. A Huaca del Sol foi pouco estudada e não tem áreas restauradas e a visitação não é permitida. Os únicos trabalhos de escavação que se percebem lá são na área entre as huacas, que é a área onde vivia a população.
As huacas foram abandonadas em função das mudanças climáticas provocadas por El Niños severos que abalaram a fé que os moches tinham em seus deuses.

Abaixo uma sequência de fotos da Huaca de La Luna.



















É uma visita imperdível para quem está na região.
Voltei para a moto e encontro ela deitada no estacionamento, o vento era forte e a areia cedeu. Segui para a cidade em busca de um lugar para almoçar e depois segui pela carretera Panamericana até a cidade de Santa, onde no mercado municipal eu comprei uma manta para substituir as peças de roupa que eu tinha perdido e segui pela ruta 12 para o Cânion del Pato. No início a paisagem não é das mais mais bonitas, mas conforme se avança em direção a cordilheira o vale vai estreitando e espremendo a estrada entre o rio e a montanha obrigando a estrada a copiar as curvas do rio.
Inicio do Cânion del Pato.


Segui até as 17:30, o sol já se escondia atrás das montanhas e o clima era ameno. Achei um lugar entre o rio e a estrada, de onde se tiravam pedras e areia, e lá mesmo montei minha barraca para na manhã seguinte seguir para o Nevado Huascaran.
Local do camping.

Quilometragem do dia: 270 km
Quilometragem acumulada: 8895 km