quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

14º dia de La Joya a Chivay 290 km

14º dia
20 de dezembro de 2016

Trajeto do dia.

Após uma boa noite de sono, sem vento, frio nem calor e sobre um piso plano eu segui para um dos principais objetivos da viagem, a nascente do Rio amazonas.
Teria que cruzar Arequipa, uma grande cidade e como todas as grandes cidades do Peru com trânsito tumultuado e pouca sinalização quanto as saídas da cidade e pra ajudar meu GPS funciona quando quer. Eu tenho que saber o nome da rua pra me localizar nos mapas e então ir definindo quais as ruas eu devo tomar e para isso sempre perguntando para policiais, porque as ruas não tem placa indicando o nome em sua maioria.
Vi que poderia passar por fora do centro e com isto ganhar tempo, fui perguntando e em cerca de uma hora sem muitas perdidas consegui sair da cidade. Agora seguia em direção a cordilheira com a bela vista do vulcão Misty com seu cone perfeito e do vulcão Chachani. A carretera que sigo passa contornando o Chachani. Quando estou atrás dele vejo no horizonte um vulcão entrar em erupção, um sonho que tinha era ver isto. Estava a uns 100 km em linha reta do vulcão. Parei as margens da carretera, peguei pão e sardinha e almocei ali mesmo apreciando aquela visão. Não era uma grande erupção, de 10 em 10 minutos ele expelia uma coluna de cinzas de uns 2.000 metros de altura, mas pra mim já era suficiente. Fiquei lá uns 40 minutos e segui meu caminho.




No roteiro que tinha feito apontava 70 km de estrada de chão para chegar a Chivay, para minha sorte eu estava errado e era asfaltado em partes, estavam recapando e peguei só uns 15 km de estrada de chão. No meio desta estrada eu vi uma placa apontando 3 km inscrições rupestres e uma seta apontando para uma estrada de chão. Fui lá ver. Desci então pela estrada e 5 km depois cheguei a uma pequena vila que ficava em volta de uma estação de trem, já tudo abandonado, parecia coisa de faroeste. Vi uma roda de caminhão com um pendulo dizendo para tocar, não toquei, afinal não via sinal de vida na cidade. Procurei alguma indicação para as inscrições e nada, quando eu já estava pensando em voltar ouço um berro ao longe. Era a única pessoa que morava lá, um senhor de uns 65 anos já bem judiado pelo sol e pela vida dura que levava ali e seu cachorro. Esperei ele chegar, ele falou que custava 5 soles para ir ver as inscrições e que ficava a uns 3 km dali. Ele me deu a chave da "cueva" e segui para lá, deixei a moto num estacionamento que ficava a uns 500 metros da "cueva". 

Cidadezinha abandonada

Cidadezinha abandonada

La Cueva

Os desenhos


A Biz descansando

As inscrições estavam em uma caverna em um vale uns 100 metros abaixo do estacionamento, desci até na expectativa de ter coisa legal e valer a pena a descida e subida. Cheguei lá e não me impressionaram os desenhos, mas vale a visita. Os desenhos mostram o cotidiano do povo que viveu ali a milhares de anos, mostra os animais e a rotina deles que era plantar e caçar.
Subi o vale fazendo algumas paradas para descansar, estava a quase 4.000 metros de altitude e ali qualquer movimento já cansa, ao chegar no estacionamento a moto que já estava cansada de me esperar resolveu deitar, o vento era forte.
Voltei para a vila, devolvi a chave da "cueva" e voltei para a estrada. Para chegar a Chivay, que fica no vale do Colca, eu ainda tinha que passar uma montanha, esta passagem fica a 4.900 metros de altitude e como toda passagem de montanha nos Andes é muito bonita em função das mais variadas cores e formas das rochas. No alto da montanha tem um mirante que se pode observar todos os vulcões da região, são vários e todos indicados por placas com o nome e altitude. De lá eu podia ver o vulcão que estava em erupção, era o Sabancaya. Tinham várias cholas vendendo artesanatos e roupas tipicas lá. Por curiosidade perguntei quanto era uma blusa de lã de alpaca e custava 40 soles, 40 reais, não pude não comprar.




Desci então para Chivay, uma cidade antiga com construções coloniais e agitada por turistas do mundo inteiro que vem até a cidade para percorrer o cânion Colca, o mais profundo do mundo. Cheguei lá as 16:30. A cidade está a 3.635 metros de altitude e a nascente a 5.173 metros separadas por 47 km de estrada, sendo 22 km de asfalto e 25 km de chão. Pensei que daria tempo de chegar até a nascente durante o dia e sabia que teria que voltar parte do caminho no escuro. A estrada que liga Chivay ao distrito de Tuti foi um dos trechos mais lindos que percorri nesta viagem, o sol poente dava uma iluminação toda especial ao cânion que é todo cultivado em andenes incas com um rio de águas cristalinas correndo ao centro. Estrada super recomendada a que vai a Chivay. 
Comecei então a subir a montanha após deixar o asfalto. Eu tinha fotos por satélite com o roteiro traçado, pois as estradas não estavam mapeadas no GPS. A estrada até certa altura estava em boas condições, mas depois foi piorando, muitas pedras soltas e valetas cortadas pelas chuvas de dias anteriores. Em certa altura a estrada passa a ser um trilho bem marcado em meio ao deserto e a estrada que sai da principal para o Nevado Mismi nada mais é que alguns trilhos de carro, passei direto. Continuei seguindo no caminho errado por uns 8 km até me dar conta de que estava no caminho errado. Olhei para meus mapas, tentei reconhecer o relevo para me localizar e achei que um cerro que estava atrás de uma colina era o Nevado Mismi, sai da estrada em direção ao cerro, andei uns 1000 metros até depois da colina achando que teria uma estrada lá que me levaria a nascente e não tinha. O caminho fora de estrada era sobre pedras e moitas de capim, uma dessas moitas pegou na carenagem frontal e quebrou. No meio do caminho voltando para a estrada algumas vicuñas pararam e ficaram me olhando espantadas, nunca devem ter visto um maluco andando de moto no meio do nada ali. Algum tempo depois voltei para a estrada e o sol estava pra se por em pouco tempo, não tinha como chegar até a nascente e eu não podia voltar para a cidade sem chegar à nascente. Olhei no GPS a altitude, estava a 4.800 metros, acampar ali seria muito frio, alias já estava muito frio e ventava um pouco, mas não tinha jeito eu precisava achar um lugar pra acampar. Segui pela estradinha até achar um daqueles locais onde as vicuñas fazem de banheiro, elas defecam sempre num mesmo lugar e isto cria uma clareira no meio das moitas de capim. 



Chivay


Praça das Armas

Vale do Colca

Perdido em algum lugar perto da nascente co Rio Amazonas.

Escolhi um lugar com menos coco de vicuña, tirei umas pedras que me incomodariam pra dormir e montei a barraca. Peguei todas as roupas que eu tinha, sabia que ia precisar, vesti elas e fui tentar dormir, com o vento batendo na lona e o frio, para no dia seguinte 
tentar achar a nascente.
Quilometragem do dia: 290 km
Quilometragem acumulada: 5120 km