Vigésimo nono dia.
03-01-18 De Salar de Ascotan a Calama
Mais uma noite gelada, -6 graus dentro da barraca e -13
graus lá fora. Novamente a moto e a barraca congeladas. Como estava acampando
na borda de um salar a humidade do ar ainda é alta, logo a sensação e o frio
são maiores e pelo segundo dia seguido sou obrigado a fazer o numero 2 com
temperatura abaixo de zero. O intestino regulou para as 6 horas da manhã e não
tem como segurar e como não tem banheiro no hotel de bilhões de estrelas o
jeito é improvisar.
Desmontei a barraca e segui para a estrada, tinha 50 km pela
frente até chegar a outra estrada que levaria a San Pedro de Atacama pelas
montanhas passando pelo gêiser Del Tatio.
Devolta ao asfalto eu cheguei até um vulcão pequeno que
quando passei na ida pensei em subir mas deixei quieto, dessa vez eu teria que
subir. Deixei a moto lá perto e fui subir, eram 160 metros de altura para subir
pela encosta do mini vulcão, iniciei em 3540 metros e mesmo estando a quase um
mês a mais de 4000 metros de altitude eu tive que fazer mais de 10 paradas para
tomar ar, mas valeu a pena.
Cheguei na cratera que lá debaixo parecia que seria
pequena, mas era grande e a visão lá de cima era muito bonita, era possível ver
outros vulcões e as planícies do deserto. Para descer foi fácil, não cansa.
Cheguei na moto eram 11 horas e decidi almoçar, enquanto almoçava ouvi o
barulho de uma moto com escape esportivo se aproximando e passaram duas motos.
Pensei comigo que só podiam ser brasileiros, continuei comendo meu pao com
sardinha e depois de um tempo ouvi aquela moto roncar e vi eles parados a uns 2
km. Devia ter estragado pensei. Terminei de comer e fui lá ver se poderia fazer
alguma coisa. Eram 2 catarinenses de Brusque, um até já tinha conversado comigo
pelo Facebook. Conversamos um pouco e o cara da moto barulhenta, uma Bros 125,
disse que estava com problema na carburação por conta da altitude, mas que já
tinha resolvido, tirou o filtro e ia seguir sem. Nos despedimos e fui para o
meu sofrimento do dia.
Cansei de empurrar
Peguei a estradinha, ruta B145, que inicia na ruta 21 a 80
km de Calama, inicialmente era estrada boa, mas logo tornou-se a minha maior
provação. Nos primeiros quilômetros ela alterna entre estrada boa, costela de
vaca, buracos e algumas partes com areia, lá pelo quilometro 35 a coisa começa
a realmente ficar feia, com grandes trechos de pura pedra fininha misturada com
areia com até 30 cm de profundidade de terra solta onde a moto só anda comigo
do lado ajudando a empurrar. Passei por uns 3 trechos de uns 100 metros assim
até mudar para a estrada ao lado, que estava um pouco menos pior. Elas se
uniram lá na frente e logo se separaram novamente e na que era a principal
tinha uma placa avisando: “Camino mal estado”. Continuei por aquela paralela
achando que elas se cruzariam lá na frente e na verdade esta paralela cruzou um
salar e ia para o alto da montanha, eu decidi que não iria mais para San Pedro,
se até ali onde não tinha placa avisando das condições da estrada já estava o
inferno, imagina se eu continuasse por onde a placa avisava que não estava bom.
Agora eram mais 35 km para voltar para o asfalto da ruta 21 e mais sofrimento.
Voltei pela paralela que na vinda eu passei em partes dela e estava melhor que
a principal, mas tinha uma parte de uns 300 metros de puro areão que foi pra
pagar muitos dos pecados que cometi. Parei varias vezes para descansar e
empurrei bastante a moto no areão. As costas doíam, dor muscular, tamanho era o
esforço, tive que tomar um torsilax para ver se doía menos. Passado esta parte
eu pude ver um pouco da fauna do local, uma marreca selvagem com filhotes no
rio e uma Suri com ums 10 filhotes, o Suri é uma ave de tamanho entre uma Ema e
um Avestruz, se parece muito com eles.
Voltei para o asfalto e segui até Calama. Parei num shopping
e fui ao mercado, la comprei varias sopas e arroz para minhas próximas
refeições, no Chile não dá pra ir em restaurante. Comprei por R$17,50 4 coxas
com sobrecoxas assadas, seria meu almoço de hoje e de amanhã, já que só
consegui comer duas. As sopas ficam num preço muito bom, comprei várias de
vários sabores, frutas quase não dá de comprar de tão caro, a maioria na faixa
dos R$10,00 o kilo.
De lá fui abastecer e sai da cidade já com o sol se pondo e uns
10 km depois da cidade entrei no deserto e montei minha barraca atrás de um
monte de areia agora é só descansar porque o dia puxado.