Vigésimo segundo dia.
Fui montar as coisas na moto e senti a falta de uma
sacolinha com os brinquedos que eu tinha comprado em La Paz, pensei ter
esquecido na oficina, já que dentro do baú estava a câmera digital que vale
mais de R$1.000,00, quem ia roubar só os brinquedos e não a câmera? Como tinha
tirado tudo de dentro do bau na oficina achei que pudesse ter esquecido lá.
Voltei na oficina e não estava lá, não sei se acharam na oficina e não quiseram
entregar ou tinha um ladrão burro no hotel.
Decidi tentar chegar em La Rinconada com a moto daquele
jeito mesmo. Saí de Juliaca com o tempo bom, mas com várias chuvas pelos cantos
e uns 30 km depois pego uma delas e mais 10 km pra frente reduzo pra entrar
numa ponte com uma via só e a moto começa a falhar e morre no meio dela,
empurrei até a cabeceira tento fazer pegar e ela liga, mas ao engatar a marcha
ela morre. Fiquei segurando o acelerador nuns 30% por um tempo e tentei engatar
e foi. Consegui andar com ela, mas se tivesse que reduzir ela começava a
falhar, eu estava voltando pra Juliaca, desse jeito não dava pra tentar chegar
em La Rinconada, decidi que ia tentar voltar até Juliaca e ver o que faria por
lá.
No começo da cidade parei para esquentar as mão e ouvi um barulho de faísca
no motor, fui ver de perto e saia faísca do cachimbo da vela para o moto.
Estava explicado o porque de a moto estar falhando, ainda mais na chuva. Fui
até uma oficina Yamaha e comprei um cachimbo original Honda novo. Não falhou
mais, mas continua sem potência. Resolvi então ir para Arequipa e arrumar lá a
moto.
Saí de Juliaca passava das 16 horas, não daria pra chegar lá
naquele dia, eram 200 e poucos quilômetros. A estrada é sem graça até chegar na
cordilheira, quando nos picos se vê a neve dos últimos dias e também uma laguna
grande, a 4400 metros, com várias pequenas ilhas. Já perto do fim da tarde e
ainda chovendo passei por uma parte onde choveu granizo, tinha uns 5 cm
acumulado no acostamento, era uma faixa de 1 km onde passou nuvem que deixou
tudo branquinho, montanhas e planícies, que rendeu ótimas fotos.
No meio do deserto avistei um povoado abandonado as margens
da rodovia e fui lá ver se daria pra acampar e achei um lugar perfeito dentro
de uma pequena igreja. É uma cidadezinha que nasceu em função da ferrovia, a
igreja data de 1948 e no cemitério a lápide mais velha que se pode ler é de
1955 com a mais recente de 2016, alguém ainda usa aquele cemitério, mas na
cidade ninguém mora. Montei minha barraca dentro da igreja, protegido do vento
e da chuva, mas do frio não, estava a 4400 metros de altitude e a noite baixou
de -2 graus o frio.
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